CATS

Por Daniel Veiga

Tava lembrando que em novembro de 2023 o CATS liderou um manifesto contra o transfake no filme ‘Agreste’. Reunimos quase 40 pessoas na Av. Paulista para protestar contra a escalação de um homem cis como protagonista, enquanto Leo Moreira Sá, ator trans talentoso, foi relegado a uma ponta sem nome na mesma obra. Um símbolo cruel da invisibilidade transmasculina.

Nunca consegui ver o filme todo – já conheço bem a dramaturgia – porque tem tempos que me recuso a ser tragado pelo fetiche cis sobre a violência contra corpos trans. A questão aqui é: ‘Agreste’ em nada contribui para o debate transmasculino — só reforça a espetacularização do sofrimento. O famoso “choque pelo choque”. Em que aquelas cenas finais grotescas realmente fazem refletir, criticar, discutir?

Na época, defendi que Leo deveria ser o protagonista. Eu estava completamente errado! Que o universo nos livre de ver um corpo trans real sendo submetido a tal violência, mesmo que na ficção. Seria mais repulsivo ver Leo passar por isso do que o próprio ator cis que fez o papel. Como digo sempre: o problema não é apenas o corpo cis fingindo ser trans (embora seja o problema da primeira camada). A questão, antes de tudo, é QUEM conta nossas narrativas e COMO elas são contadas. Por que os mesmos lugares? As mesmas obviedades? A mesma falta de ousadia e superficialidade, o mesmo desleixo e preguiça pra contar nossas histórias? Daí apelar pra violência. Mas tudo que sei é que, quando a violência contra um corpo trans na tela não gera provocação, incômodo ou crítica nas pessoas transfóbicas, ela serve apenas para satisfazer suas perversões.

#Representatividadetransmasculina #Pessoastransmasculinasnoaudiovisual #VisibilidadeTrans #CulturaTransMasculina