CATS

Por Leo Moreira Sá

BOYS DON’T CRY (EUA, 1999)  é um filme dirigido pela cineasta estadunidense Kimberly Pierce, que busca dramatizar a história real do homem trans Brandon Teena – vítima de um dos crimes de ódio mais violentos da história da comunidade trans.

Pierce elencou Hilary Swank para interpretar o personagem protagonista,  uma atriz cis que ganhou o Oscar por este papel, além de outros prêmios como melhor atriz nos anos subsequentes.

A obra de Pierce se fundamenta, sobretudo, no documentário The Brandon Teena Story (EUA, 1998), dirigido por Susan Muska e Greta Olafsdottir — um filme que mais se assemelha a um terror. É preciso ter estômago para ouvir o áudio da sessão de tortura psicológica transmascfóbica, conduzida pelo delegado durante o interrogatório de Brandon, no momento em que ele denunciava os estupradores.

Ao apresentar imagens de arquivo e áudios de entrevistas com pessoas que conviveram com Brandon em seus últimos anos de vida — além de depoimentos de envolvidos em seu assassinato, em 1993 — o documentário “The Brandon Teena Story” escancara o contexto de extremo conservadorismo que condenou à morte um jovem de 21 anos que apenas desejava viver livremente sua identidade.

Nascido em 1972, na cidade de Lincoln — capital do estado de Nebraska, EUA — Brandon se mudou, aos 18 anos, para uma região rural onde ninguém o conhecia, com o objetivo de viver sua (trans)masculinidade de forma anônima. No entanto, após ser preso por um pequeno delito, sua identidade de gênero foi exposta, gerando indignação e revolta na conservadora comunidade local, especialmente entre as pessoas cisgênero com quem havia criado vínculos.

A partir da exposição pública de sua identidade, Brandon foi sugado para o centro de uma espiral de acontecimentos transmascfóbicos, envolvido em múltiplas situações violentas (como ser forçado a mostrar sua genitália para a namorada) pra logo na sequência ser estuprado, espancado e assassinado com arma de fogo. 

​​Os executores do crime foram presos — um condenado à morte e o outro à prisão perpétua. Ainda assim, é impossível ignorar que o assassinato de Brandon foi, em essência, um crime coletivo, perpetrado pelo conservadorismo transfóbico que dominava aquela cidade.